terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Descrição de um acidente aéreo por um espírito[1]



Ademir Xavier

         
"Não pense que sofro outra espécie de angústia senão essa que me vem de sua ternura torturada e de nossa família amorosa e inesquecível.

Se me lembrarem tranquilo, estarei seguro de mim.

Se me recordarem conformado, a resignação estará comigo.

Não julguem que vim para cá fora de tempo.

Hoje sei que o meu tempo terrestre era curto[2]".
 
Por coincidência, na semana da ocorrência do desastre aéreo com o time da cidade de Chapecó, tive a oportunidade de ler um texto psicografado por Chico Xavier em fevereiro de 1993[3] que descreve as circunstâncias de um acidente aéreo ocorrido em junho de 1992. Nessa carta, o Espírito Celso Maeda descreve seu último instante como encarnado antes do acidente que culminou na queda - por colisão com o mar - da aeronave Beech F 90-1 King Air, que carregava quatro ocupantes.
Os detalhes técnicos do acidente, eu consegui encontrar na internet[4]. O avião havia partido do aeroporto de Itumbiara (GO) com destino a Blumenau (SC), mas sua queda se deu no mar, na altura da cidade de Navegantes (SC). A causa do acidente foi reconhecida como as péssimas condições meteorológicas, o que está descrito em detalhes na carta enviada:
“Subimos céus acima ou tentamos subir… Não era fácil raciocinar ante o perigo maior que se aproximava. Tentou-se a elevação da máquina, mas o vento prosseguia implacável qual se fosse um conjunto de forças maléficas interessadas em derrubar-nos”.
Não temos dúvidas quanto ao desespero e apreensão que toma conta de todos os envolvidos nesses momentos:
“Estávamos à mercê dos acontecimentos que o furacão nos impunha. O piloto e o companheiro que o assessorava estavam pálidos, agravando-nos as dúvidas e o desconforto de que nos sentíamos possuídos. Debalde procurávamos alguma nesga de céu azul. Achávamo-nos como que trancados por dentro de uma nuvem que parecia guardar o vento furioso que não encontrava uma saída a fim de expandir-se. Por dentro éramos a aflição de quem não se eximiu da morte compulsória e por fora de nós vimos claramente que um enorme banco de areia nos aguardava, asfixiando-nos a todos”.
E, finalmente, a descrição do grande despertar:
“A água marinha encharcada de areia nos penetrava os pulmões e quando me vi totalmente esmagado nada sabendo de meu irmão e dos companheiros que nos guardavam a viagem, quando no auge do meu desespero íntimo, vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em Deus e me disse: Meu filho, você está conosco. Sou a sua avó Ai, que venho retira-lo da areia. Seu avô Tsunezaemon retirará seu irmão. Haverá socorro para vocês todos. O piloto e o copiloto serão resguardados”.
Em acidentes desse tipo, quando um grupo de pessoas acaba retornando mais cedo à vida real, é plenamente natural que os que ficam sintam a fragilidade não só da vida humana, mas de todas as perspectivas e planos que se faz ao se viver.
 Se a vida humana (a presente) pode ser considerada frágil - e de fato é porque existem leis materiais que determinam de forma rigorosa seus limites - a condição de paternidade espiritual indica outra coisa bem diferente. Nossa vida material é frágil porque ela não é a vida verdadeira do Espírito, que não está sujeito a esses limites severos impostos pela condição de materialidade, mas depende de laços facilmente rompidos com as influências do ambiente. O instante da morte, em momento como esse se assemelha a um novo despertar, a partir do qual novos planos e diretrizes serão feitos pela alma imortal. Os que ficam, se não se prepararem, guardarão por muito tempo as impressões da saudade, mas a verdade é que eles apenas partiram alguns instantes antes de nós.



[2] "Entre duas vidas".  R.T. Richetti. Ed. Boa Nova.

[3] "Dádivas Espirituais". F. C. Xavier, Espíritos diversos. Ed. IDE.

3 comentários:

  1. É nosso melhor conforto saber que não estaremos só num momento confuso.Que Deus nunca desampara seus filhos, que mesmo quem morreu em tragédias também teve proteção.

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  2. A morte deixou de ser algo natural entre nós aqui da terra, e as "catástrofes", são cheias de culpas alheias, menos ou jamais se pensa no resgate karmico dos ocupantes... O clima, o motor as falhas humanas! Poucos são os que deixam o acontecimento sobre os envolvidos! Somente neles estão toda responsabilidade.

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  3. Quando leio relatos como esse sempre me vem à mente as situações daqueles irmãos que jamais aceitaram a espiritualidade como algo divino, do bem. Reportam-na como algo diabólico, pois acreditam (principalmente os evangélicos) que ao morrerem ficarão suas almas em estado cataléptico até o momento do Juízo Final, quando Deus os julgarão e os absolverão ou os condenarão ao fogo eterno do inferno. Assim, quão confusos estarão ao se depararem com outra realidade logo após a morte física? Quanto tempo levarão para se libertarem de um estado, imagino eu, tão confuso e complexo? Pensarão eles ser objeto de escárnio nas mãos daquele diabo de que tanto seus pastores lhes falaram?

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